Wiki AIA 13-17
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Editor: Jessé Vinicius Lana

Colaboradores: Ana Santin, Leandro Rosin, Nicolas Dominico, Renata Mazzuco

A morte: Última etapa do ciclo vital

A morte é um tema que provoca frequentes discussões, especialmente entre os profissionais da saúde, que se encontram em contato direto e repetido com pacientes velhos e com pessoas que morrem sob os seus cuidados. Discutir o que representa a morte e como as pessoas encaram a sua morte pode apresentar dificuldades por conter um significado subjacente: o de refletir sobre nossa própria morte e sobre como será nosso morrer. Isso é necessário para que possamos lidar melhor com a morte de nossos pacientes, auxiliando-os e a seus familiares, como médicos e como pessoas.

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Solidariedade no sofrimento - Fonte http://www.ahesc-fehoesc.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=984:solidariedade-no-sofrimento&catid=42:geral&Itemid=166

Para os médicos e estudantes de medicina, é difícil lidar com repetidas cenas de dor, sofrimento e tristeza no dia-a-dia. Assistir a pessoas sofrendo, torna-se, frequentemente algo penoso, porque nos lembra de que, como seres humanos idênticos aos nossos pacientes, também estamos suscetíveis a estas situações e não podemos modificar o curso da vida, que se encaminha para a morte. Sendo assim, para que possamos lidar com doenças e morte, os profissionais da saúde usam de mecanismos de defesa que podem ser úteis, como o humor e a negação, mas que, por outro lado podem nos tornar resistentes a sentir empatia pelos pacientes. Fica claro, portanto, que a posição ideal consiste em entender o que o paciente sente, identificar-se parcialmente com ele, mas não sofrer como se fosse ele, atitude esta difícil de alcançar e de manter.

O medo da morte

A morte representa o poder sobre o qual não temos nenhum controle, invisível, intangível, indomável, desconhecido. Tememos a morte por não sabermos como será o nosso encontro com ela, em que momento da nossa vida ocorrerá e o que representará para nós. O medo da morte existe em todas as pessoas, ao longo de suas vidas, mesmo que seja negado ou mascarado.

O medo da morte é o terror do desenlace de um evento único e definitivo, que combatemos e evitamos durante toda a nossa vida. O medo da morte emerge já na infância inicial e é essencialmente o medo da repetição do terror mortal experimentado em situações traumáticas (eventos biológicos inevitáveis que ocorrem no desenvolvimento de todas as crianças), como o medo da perda de pessoas significativas (principalmente a mãe), o medo da perda do amor, a angústia de castração e a angústia face ao superego.

Se o medo da morte fosse constantemente consciente, seríamos incapazes de realizar nossas atividades normalmente. Portanto, deve ser apropriadamente reprimido para que continuemos vivendo com um mínimo de conforto. Em determinados momentos necessários, é importante que mantenhamos a convicção interna de que somos mais fortes do que todos os perigos que a sociedade pode nos infligir e que, dessa forma, somos exceções que a morte não irá abater. Isso é importante para que a ansiedade causada pelo conhecimento de nossa morte seja aliviada.

Disso surge nas pessoas o interesse e fascinação por acidentes fatais, execuções, pela morte em geral. Essas tendências, por mais reprimidas que sejam, satisfazem-se vendo a morte de outros, o que nos afirma que não fomos nós que morremos, que não fomos nós que sofremos. Assim, são os outros que passam por tal situação, não nós. Portanto, reafirma-se também que no futuro isso não nos ocorrerá, mas apenas aos outros, nos quais projetamos o terror que nos desperta esse acontecimento inevitável.

A integração do medo da morte à estrutura da personalidade é uma parte necessária no desenvolvimento humano, e deficiências nessa adaptação contribuem para os transtornos emocionais.

A reação do homem frente à sua morte

A morte, como uma realidade presente desde o nascimento, desperta numerosas fantasias inconscientes e as correspondentes defesas contra ela. Ela é vista como uma criatura antropomórfica, em geral uma mulher com uma foice, envolta em um temível manto negro, que vem buscar e levar a pessoas para um destino incerto. Esse ser assustador é a projeção dos próprios impulsos agressivos da pessoa que está prestes a morrer e representa alguma pessoa de sua história passada, alguém a quem sente ter atacado ou mesmo destruído. Portanto, a morte pode ser vivida como um castigo por supostos crimes, faltas ou má conduta, o que a torna então, algo terrível, assustador, insuportável. Porém, a morte pode também ser vista como uma forma de reencontro com pessoas perdidas, recriando-se um mundo desaparecido e refazendo-se antigos laços.

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Na linha da negação, encontram-se as defesas maníacas, que levam o paciente a sentir alegria e prazer. A morte transforma-se, de perda do bem mais precioso, em um triunfo ou superação, na realização do encontro com o pai, com a mãe na entrada do paraíso. Assim, a morte pode tornar-se desejável, glamourizada, representada por uma bela mulher, envolta em véus diáfanos.

Elisabeth Kubler-Ross (1987), psiquiatra suíça, realizou um importante estudo com doentes terminais e distinguiu os estágios de reação à morte pelos quais passam desde o momento em que tomam conhecimento do seu prognóstico. Esses estágios não se apresentam necessariamente em ordem cronológica e, com frequência, o paciente pode experimentar, ao mesmo tempo, sentimentos diversos.

Primeiro Estágio: Negação e Isolamento. A reação do paciente, neste período, pode ser resumida na seguinte frase: “Não, eu não, não pode ser verdade”. É um mecanismo de defesa que vem depois da notícia inesperada e chocante da morte iminente, que posteriormente, vai e volta.

Segundo Estágio: Revolta. Depois que a negação esgotou-se e que é impossível não ver os sinais da doença, o paciente sente extrema revolta e frequentemente pergunta-se: “Por que eu?”. Sente revolta por estar a ponto de perder sua vida, tem ressentimento por aqueles que ficarão, pelos que ama e continuarão vivendo mesmo após sua morte.

Terceiro Estágio: Barganha. Depois que o paciente percebe que por mais raiva que tenha ninguém o salvará e que sua fúria não o levará a lugar nenhum, começa a barganhar com Deus, pedir alguma coisa e dar outra em troca, significa estabelecer um compromisso que o deixaria ligado à vida e o impediria de morrer.

Quarto Estágio: Depressão. Após ter tentado inúmeras barganhas , o paciente percebe que é impotente e que não tem força nenhuma perante a morte e que dela não escapará. Então, cede lugar a um sentimento profundo de perda. Essa depressão geralmente é silenciosa e preparatória à perda iminente de pessoas amadas.

Quinto Estágio: Aceitação. O paciente, depois de tantos sentimentos fortes, não terá mais depressão ou revolta. Externalizou os seus sentimentos de inveja, de perda de lugares, de momentos e de pessoas queridas; estará cansado e fraco. Quer ficar só, sem notícias do mundo exterior, em paz consigo mesmo, junto daqueles a quem ama, esperando a morte.

O significado e as repercussões da morte diferem conforme o momento do ciclo vital em que ocorre. As reações do paciente e de sua família, quando se trata de uma criança ou adolescente, assumem características mais dramáticas, por exemplo, do que o final da vida que coincide com a velhice, em que tal desfecho já é esperado, e por isso tende a ser mais facilmente aceito. Portanto, devem-se considerar as características emocionais específicas de cada período e as circunstâncias da morte (doença, acidente, suicídio, violência urbana), para que se tenha compreensão mais abrangente de suas repercussões na família e no meio social em que a pessoa que morreu estava inserida.

O estudante de medicina e a morte

Todos os aspectos mencionados anteriormente adquirem particular intensidade no estudante de medicina, que, além de sua condição de pessoa, encontra-se em uma etapa evolutiva específica (adolescente-adulto jovem) e em uma fase de identificação que consiste em abandonar posturas e atitudes anteriores e adquirir uma identidade médica. O impacto da morte, do sofrimento e da doença terminal adquire características específicas. Várias atitudes defensivas podem ocorrer: negação, projeção, formação reativa e identificação excessiva. O enfoque racional, não-emocional e cientifico é um modelo que os estudantes de medicina podem estar sendo encorajados a seguir com os pacientes e com suas famílias, mesmo quando se trata de pessoas com doenças incuráveis. Adotando uma postura autoritária e distante, o médico e o estudante passam a lidar com a morte como algo da realidade cotidiana, banalizando-a.

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Sendo assim, os médicos e os estudantes de medicina precisam explorar suas próprias perspectivas sobre o significado do sofrimento a fim de desenvolver seus enfoques a respeito do paciente que está atravessando essa etapa. Identificar os fatores relacionados aos médicos, pacientes e sistema de saúde que impõem barreiras ao atendimento apropriado no final da vida deve ser o primeiro passo em direção à educação dos profissionais da saúde.

Referências bibliográficas

1- EIZIRIK, C.L; POLANCZYK, G.V.; EIZIRIK,M. O médico, o estudante de medicina e a morte. Revista da AMRIGS, 2000.

2- ERIKSON, E.H. & ERIKSON, J. O ciclo da vida completo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

3- KAPCZINSKI, F.; BASSOLS, A.M.S. O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed, 2001.

4- Lana, J.V. Anotação da aula da disciplina de Psicologia Médica. Univille. 05/11/2013.

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