Editora: Thais Yuri Miura
Colaboradora: Maria Eduarda Kostecki
O gênero Neisseria tem 10 espécies encontradas no organismo humano, sendo 2 espécies patogênicas para os humanos, Neisseria meningitidis e Neisseria gonorrhoeae. As outras espécies estão localizadas nas superfícies mucosas da orofaringe e da nasofaringe e podem colonizar as membranas mucosas anogenitais. E tem virulência limitada e produzem doenças somente em pacientes imunodeprimidos.
Neisseria[]
• Cocos gram-negativos (0,6 a 1,5 µm), tipicamente diplococos.
• Forma: rim ou feijão.
• São aeróbios, imóveis e não formam endósporos.
• Temperatura ótima de crescimento entre 35° a 37° C.
• *Oxidase positiva e a maioria produz catalase.
• Produzem ácidos por oxidação dos carboidratos (não por fermentação).
• Pili se estende da membrana citoplasmática através da membrana externa.
- o Se liga à célula hospedeira, transferência de material genético, motilidade.
- o Pili são compostos por subunidades de proteínas (pilinas) e sua expressão é controlada pelo gene pil. Está associada à virulência, em parte porque os pili medeiam a ligação às células epiteliais não-ciliadas e fornecem resistência a morte por neutrófilos.
• Neisserias patogênicas competem com o seu hospedeiro pelo ferro através da ligação transferrina da célula hospedeira a receptores bacterianos específicos de superfície. A especificidade dessa ligação à transferrina pode ser a razão dessas bactérias serem patógenos estritos de humanos.
Neisseria gonorrhoeae (gonococo)[]
• Pode infectar mucosa genital, anal e da orofaringe e, também a conjuntiva de recém- nascido.
• *Não apresenta cápsula
• Oxidase e catalase positivos
• Produção de ácido – a partir da metabolização da glicose.
• Microorganismos fastidiosos, exigem meios complexos (cisitina, aminoácidos, purinas, pirimidinas ou vitaminas) para o crescimento e é afetado pela exposição a ambientes secos ou ácidos graxos.
• Crescimento em atmosfera úmida e com CO2, com temperatura de 35°- 37° C.
• * Fatores de virulência: são classificadas em 3 grupos: PI, PII e PIII.
• Proteínas PI:
- o PorB é a principal proteína da membrana externa e deve estar funcionalmente ativa para a bactéria sobreviver. Formam poros/canais para a passagem de nutrientes para a célula e a saída de metabólitos. Afetam a degranulação de neutrófilos (ex. fusão fagolisossomo que levaria à morte bactérias intracelulares) e protege a bactéria da resposta inflamatória do hospedeiro. E junto com outras adesinas facilitam a invasão bacteriana das células epiteliais.
• Proteínas PII:
- o Opa (protína de opacidade) – ajudam na adesão ao hospedeiro e são importantes para a sinalização célula-a-célula.
• Proteínas PIII:
- o Proteína Rmp (proteínas modificáveis por redução): estimulam anticorpos que bloqueiam a atividade bactericida do soro contra as bactérias patogênicas. É encontrada complexada com PorB e ao LOS.
- O lipopolissacarídeo da N. gonorrheae é denominado lipooligossacarídeo (LOS).
- o LOS: endotoxina que estimula TNF (dano tecidual)
• Protease de imunoglobulinas (IgA1)
• Proteínas de ligação à transferrina, à lactoferrina e à hemoglobina
• β-lactamase (inativa os antibióticos lactâmicos, como a penicilina)
• Não tem antígenos capsulares, seus antígenos estão presentes na membrana.
Patogênese []
Os gonococos se ligam às células da mucosa, que é mediada pelas proteínas PII. Moléculas de adesão celular relacionadas ao antígeno carcinoembrionário (CEACAM) funcionam como receptor das proteínas Opa, estão presentes em células epiteliais, endoteliais e fagócitos e são receptores para a entrada de bactérias e vírus. Depois penetram nas células, auxiliadas pela PorB, se multiplicam, e então passam para o espaço subepitelial, onde a infecção se estabelece. O LOS estimula a resposta inflamatória e a liberação do fator de necrose tumoral α (TNF α), que causam a maioria dos sintomas associados à doença gonocócica. N. gonorrhoeae pode ligar resíduos de ácido siálico sérico (molécula do hospedeiro) a resíduos de galactose do LOS, tornando a cepa resistente à atividade bactericida do soro, não ativando a cascata do complemento.
A IgG3 é o anticorpo mais formado em resposta à infecção gonocócica. Os anticorpos para a LOS podem ativar o sistema complemento, liberando o C5a do complemento, o qual tem um efeito quimiotático sobre os neutrófilos.
Produzem protease imunoglobulina (Ig) A1, que cliva IgA1, gerando fragmentos Fc e Fab imunologicamente inativos e podem bloquear o acesso de anticorpos IgG e IgM. Também clivam LAMP1, uma glicoproteína presente na membrana dos lisossomos, onde se processa a degradação de material endocitado pelas células.
Patologias[]
► Gonorréia: doença sexualmente transmissível.
- No homem, a infecção genital é inicialmente restrita a uretra (causando uretrite). Secreção uretral purulenta e disúria se desenvolvem após 2 a 5 dias de período de incubação. Podem ocorrer epididimite, prostatite e abscessos periuretrais.
- Na mulher, o local primário de infecção é o cervix (causando cervicite), porque a bactéria coloniza células
epiteliais colunares endocervicais e não pode infectar células epiteliais escamosas do revestimento vaginal. Apresentam secreção vaginal, disúria e dor abdominal. Ainda pode ter salpingite, abcessos tubovarianos e doença inflamatória pélvica.
► Gonococcemia: infecções disseminadas com sepse e infecções de pele e articulações. Manifestações clínicas incluem febre, artralgias migratórias, artrite supurativa nos pulsos, joelhos e tornozelos, e uma erupção pustular sobre uma base eritematosa nas extremidades, mas na cabeça e no tronco.
► Infecção da conjuntiva de recém-nascido: infecção ocorre no momento do parto.
Diagnóstico laboratorial[]
- Homem: bacterioscopia – 90% sensibilidade para homens. Observam-se DGN e numerosos leucócitos polimorfonucleares contendo ou não DGN intracelulares.
- Mulheres: cultura – indicado para mulheres
o Características de cultivo:
- Meio Thayer Martin modificado (MTM) (meio seletivo): eliminam o crescimento dos microorganismos contaminantes.
- Ágar chocolate (meio não-seletivo): +
- Vancomicina, colistina, nistatina (VCN): inibem cepas de alguns gonococos.
Epidemiologia[]
A gonorréia ocorre somente em humanos e as taxas de infecção são as mesmas para ambos os sexos. O grupo etário é de 15 a 24 anos. A N. gonorrheae é transmitida principalmente por contato sexual, as mulheres tem risco de 50% em adquirir a infecção após uma única exposição, enquanto os homens apresentam um risco de 20%.
O principal reservatório para os gonococos é o individuo portador e assintomático. A metade de todas as mulheres infectadas têm infecções brandas ou são assintomaticas, já os homens são inicialmente sintomáticos. Os sintomas geralmente desaparecem em poucas semanas em indivíduos com a doença não tratada.
Tratamento []
Para tratar a gonorréia é indicado uso de cefalosporinas de largo espectro ou esquema duplo que inclui fluoroquinolonas e a eritromicina.
Neisseria meningitidis (meningococo)[]
• * Apresentam cápsula polissacarídica (antifagocítica e antibactericidas. Importante fator de virulência).
• Envelope celular é formado de membrana citoplasmática, camada de peptideoglicano e membrana externa.
• Membrana externa é constituída de LPS e de bicamada fosfolipídica, na qual as proteínas de membrana externa (OMP) estão inseridas.
• As diferenças antigênicas na cápsula polissacarídica são os 12 sorogrupos (A, B, C, H, I, K, L, W-135, X, Y, Z, 29E). * Maioria das infecções é provocada por: A, B, C, Y, W135 – base polissacarídeo capsular – Ac anticapsular.
• Oxidase e catalase positivos
• Crescimento fastidioso, temperaturas de 35° a 37° C em atmosfera úmida.
• Produção de ácido – a partir da metabolização da glicose e maltose.
• * Fatores de virulência: as OMP são classificadas em 5 classes (1, 2, 3, 4, 5)
- o Classe 1: PorA: funciona como poros seletivos para cátions.
- o Classe 2 ou 3: PorB: funciona como poros seletivos para ânions.
- o Classe 4: Proteína Rmp
- o Classe 5: Proteína Opa e Opc (características adesivas semelhantes, mas antigênica e estruturalmente distintas das Opa).
• Pili: fixação
• LPS (endotoxina) – IgG e IgM
• Polissacarídeo capsular – principal fator de virulência
• Hemolisina – faz lise dos eritrócitos.
Patogênese[]
Os meningococos aderem-se às células epiteliais não ciliadas da nasofaringe e depois ocorre a ligação das proteínas Opa aos receptores CEACAM e das Opc aos receptores nas células epiteliais, que são as proteoglicanas sulfato de heparana (HSPG). Então são internalizados em vacúolos fagocíticos e são capazes de evitar a morte intracelular, multiplicar-se e então migrar para os espaços subepiteliais. A endocitose é mediada pela OMP de classe 2 ou 3. As propriedades antifagocíticas da cápsula polissacaridica protegem da fagocitose. O dano vascular difuso associado às infecções meningocócicas é devido à ação da endotoxina LOS presente na membrana externa.
Produzem protease imunoglobulina (Ig) A1, que cliva IgA1, gerando fragmentos Fc e Fab imunologicamente inativos e podem bloquear o acesso de anticorpos IgG e IgM. Também clivam LAMP1, uma glicoproteína presente na membrana dos lisossomos, onde se processa a degradação de material endocitado pelas células.
Patologias[]
► Doença meningocócica: o menigococo é isolado da nasofaringe e é transmitido por contato direto, por meio de secreção nasal ou oral, por meio de inalação de aerossóis. O meningococo pode penetrar na mucosa e invadir a corrente sanguínea. Causa meningite, conjuntivite, pneumonia, pericardite e osteomielite.
► Meningite: dor de cabeça, sinais meníngeos e febre. Pode ter seqüelas neurológicas, deficiência auditiva e artrite.
► Meningococcemia: sepse com ou sem meningite. Características clínicas: trombose de pequenos vasos sanguíneos e o envolvimento de múltiplos órgãos. Lesões de pele em forma de petéquias, no tronco e nos membros inferiores podem formar lesões hemorrágicas maiores. Pode ocorrer a coagulação intravascular disseminada, com choque, junto com a destruição bilateral das glândulas adrenais.
► Pneumonia (precedida por uma infecção do trato respiratório, sintomas incluem tosse, dor torácica, febre e calafrios), artrite e uretrite são algumas infecções causadas por N. meningitidis.
Diagnóstico laboratorial[]
o Análise do líquor corado pelo método de Gram: o líquor se apresenta turvo.
o Polimorfonucleares aumentado (meningite bacteriana – neutrofilos aumentados, meningite viral – aumento dos leucócitos)
o Glicorraquia baixa (glicose baixa – cerca de 1/3 da glicemia do paciente)
o Proteinorraquia (proteína alta)
o Prova látex (anticorpos revestidos com látex são colocados no líquor, se houver reação, tem como classificar o tipo de bactéria)
o PCR (biologia molecular – cadeia de ação)
o Hemocultura
Epidemiologia[]
A doença meningocócica endêmica ocorre no mundo todo, as epidemias são freqüentes em paises em desenvolvimento. Dos 12 sorogrupos, quase todas as infecções são causadas pelos sorogrupos A, B, C, Y e W135. Os sorogrupos Y e W135 são associados à pneumonia meningocócica. A bactéria é transmitida por perdigotos respiratórios entre pessoas em contato íntimo prolongado (ex. membros da família morando na mesma casa). E atinge mais crianças menores de 5 anos. Os seres humanos são os únicos portadores naturais de N. meningitidis.
Tratamento[]
Para tratar meningite meningocócica e meningococcemia é usado penicilina G, e a rifampicina é adotada como agente quimioprofilático.
Referências bibliográficas[]
MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; PFALLER, Michael A. . Microbiologia médica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006 979 p.
TRABULSI, Luiz Rachid; ALTERTHUM, Flavio (Editor). . Microbiologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2008. 760 p.
TODAR´S ONLINE TEXTBOOK OF BACTERIOLOGY - Pathogenic Neisseriae: Gonorrhea, Neonatal Ophtalmia and Meningococcal Meningitis. Disponível em: http://textbookofbacteriology.net/neisseria.html