Colaboradora: Thais Yuri Miura
Haemophilus são cocobacilos gram negativos pleomórficos (têm formato variável), anaeróbios facultativos, oxidase positivos, fastidiosos (nutricionalmente exigentes, tendo bom crescimento em ágar sangue ou chocolate) e necessitam de helmina (fator X) e nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD ou fator V) para crescerem. Esses fatores podem ser adicionados em discos aos meios de cultivo, favorecendo o crescimento. São capnofílicas (têm afinidade pelo CO2), imóveis (não apresentam flagelo) e não esporulam. Podem apresentar cápsula. Colonizam o trato respiratório humano.
Haemophilus influenzae[]
Os capsulados dividem-se em seis sorotipos (a - f), com diferenças na composição de suas cápsulas. O sorotipo B tem maior virulência e incidência. Há também a possibilidade de classificação dessas bactérias a partir de testes bioquímicos, classificando-as em biotipos de 1 a 8. As cepas não capsuladas são identificadas pela falha em reagir ao anti-soro contra os sorotipos capsulares e são denominadas "não tipáveis".
Biotipo 3: forte tropismo pelo epitélio conjuntival. Entre os componentes está o H. influenzae biogrupo aegyptius, causador da febre purpúrica brasileira.
Biotipo 4 do H. influenzae: forte tropismo pelo o epitélio genital.
Fatores de virulência[]
- Cápsula: o principal fator de virulência. Protege a bactéria contra a fagocitose. É composta por polirriboril fosfato (PRP), que tem alta carga negativa e pode repelir células fagocitárias, além de inibir a fixação de anticorpos e complemento à superfície capsular. No cromossomo bacteriano, existe o lócus cap, cuja duplicação fornece grande potencial de recombinação e geração de cepas mutantes. Essas mutações podem manter a cápsula bacteriana, ou permitir que novas bactérias não a apresentem.
- Lipooligossacarídeo: (LOS) é o lipopolissacarídeo (LPS) característico dessas bactérias. É composto por glicose, lactose, galactose, fosfocolina (Chop) e ácido siálico. Atua como endotoxina e favorece adesão (pelos resíduos de fosfocolina) às células do hospedeiro e resistência à atividade bactericida do soro (através do ácido siálico e da galactose).
- Peptideoglicano: tem efeitos citotóxicos e inflamatórios importantes em meningites e otites.
- Fímbira Hif: promove adesão às hemácias e células in vitro. A fímbria tem distribuição peritríquia e os genes responsáveis por sua biossíntese são Hif A,B,C,D e E.
- Proteínas da membrana externa: HMW1, HMW2, Hia, Hip, P5 e outras. Promovem adesão da bactérias às células.
- Proteínas secretadas: IgA1 protease serina (serina-protease) inativa a IgA1.
- Obtenção de ferro: o ferro participa da síntese de enzimas respiratórias da bactéria. As enzimas responsáveis por sua captação são transferrina, hemoglobina e hemopexina. Encontram-se na membrana externa ou são secretadas para o meio ambiente.
Patogênese[]
- Inalação de aerossóis do H. influenzae;
- Colonização das vias aéreas superiores (nasofaringe) e evasão de movimentos ciliares e outros mecanismos protetores na superfície das mucosas;
- Lesão do epitélio respiratório, a partir da destruição do muco;
- Entrada na corrente sanguínea;
- Tropismo pelos pulmões (em busca de O2). Na ausência de anticorpos específicos, há bacteremia com disseminação para as meninges e outros focos distais.
Doenças causadas []
Sorotipo b: meningite (especialmente em crianças de 3 a 8 meses), epiglotite (mais comum em crianças de 2 a 4 anos), pneumonia, celulite (bochecha e região periorbital), bacteremia e artrite séptica.
Não tipáveis: otite média, sinusite (em crianças muito debilitadas), pneumonia, septicemia e conjuntivite.
Diagnóstico[]
Cultura em ágar chocolate e exame bacterioscópico. Em casos de meningite, podem ser detectados antígenos capsulares no lícor. Estes podem ser identificados em testes de aglutinação em lâmina. A identificação também considera o tipo de hemólise e o processamento de glicose, lactose e manose, além da dependência dos fatores X e V.
Tratamento[]
Administração de antibióticos beta-lactâmicos.Se a bactéria não produzir beta-lactamase, pode-se usar a ampicilina. Se a bactéria produzir a enzima, utiliza-se cloranfenicol (porém, existem espécies reistentes à medicação). Em surtos epidêmicos, recomenda-se o uso de rifampicina.
Outras espécies de Haemophilus[]
O prefixo "para" identifica espécies que necessitam apenas do fator V.
H. parainfluenzae: tem menor incidência que o influenzae. Além dele, heamolyticus, paraheamolyticus, aphrophilus e paraprhophilus são componentes da biota normal das vias aéreas superiores, mas podem causar infecções (otite, bronquite, sinusite e pneumonia). O parainfluenzae também é associado a endocardites, artrites e abscessos cerebrais.
H. ducreyi: bacilo gram negativo pleomórfico, causador de doenças do trato genitourinário. Causa a DST cancro mole, caracterizada por ferida de alta sensibilidade (lesão semelhante à da herpes genital). A mulher portadora pode ser assintomática. O processo inflamatório inclui infiltração dos linfóctios CD4+, podendo facilitar a instalação do vírus HIV. O diagnóstico é feito por cultura em ágar chocolate, junto à vancomicina. Há também técnicas com RT-PCR e imunoflorescências. O tratamento é feito com antibióticos, como eritromicina e azitromicina, ou quimioterápicos como a ciprofloxacina.
Referências bibliográficas[]
TRABULSI, Luiz Rachid; ALTERTHUM, Flavio. Microbiologia médica. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2008.
MOTA, E.C.C. Anotações da aula da Disciplina de Microbiologia e Parasitologia. UNIVILLE. 07/06/2013
WILSON, Walter R; SANDE, Merle A. Doenças infecciosas: diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2004.
Links relacionados[]
Vacinação contra Haemophilus influenzae tipo b
Animação: mecanismo da sinusite (em inglês)
Animação: mecanismo de ação de antibióticos beta-lactâmicos e resistência bacteriana (em inglês)